SEGUNDO DIA
MEDITAÇÃO Il
A VIA COMUMUM DA SANTIDADE
Todos somos chamados á perfeição, á santidade. ''Sêde perfeitos como vosso Pae celeste é perfeito", disse Nosso Senhor.
Não há exceções neste convite do Divino Mestre. Devemos ser santos, devemos ser perfeitos, si quisermos salvar a nossa alma. E nosso ideal de
santidade é o Pae celeste, é a Santidade mesma.
Vejamos:
I. Há uma via comum de santidade, pela qual todos devemos passar.
II. Em que consiste a via da Infância espiritual.
I
Sêde perfeitos como vosso Pae celeste é perfeito (1).
Jesus Christo nos ordena a perfeição e nos apresenta o modelo a seguir. S.
Paulo exige que estejamos sempre armados contra os ataques de nossos inimigos, e perfeitos em tudo: Tomae a armadura de Deus, afim de poderdes resistir no dia mau e vos manterdes perfeitos em tudo (2).
Note-o bem: perfeitos em tudo!
Não há dúvida, todos somos obrigados a tender á perfeição e á santidade.
Nem todos, porém, podemos chegar á perfeição pelas vias extraordinárias dos
grandes santos. Logo, há de existir uma via comum, sem carismas, sem visões e sem obras extraordinárias e brilhantes, pela qual possamos andar com segurança e atingir a esta perfeição, a este grau de santidade que Deus exige de todos sem exceção.
Não façamos um conceito errôneo da santidade, julgando-a privilegio de
alguns e que a ela não poderemos chegar. Deus não a exigiria de nós, si não
houvesse uma via comum para atingi-la.
E esta via comum de santidade, não há dúvida, é a via da Infância espiritual.
Quando os apóstolos perguntaram ao Divino Mestre quem seria o maior no
reino dos céus, respondeu-lhes Jesus, chamando uma criança e colocando-a
no meio deles: “Na verdade, vos digo que si não vos converterdes e vos fizerdes como as criancinhas, não entrareis no reino do céu. Portanto, quem se humilhar como este pequeno, este será o maior no reino do céu" (3).
O Evangelista S. Marcos nos conta que Jesus, abraçando e abençoando as
criancinhas, dizia aos seus discípulos: "Em verdade, em verdade, vos digo,
todo aquele que não receber o reino de Deus como um menino, não entrará nele" (4).
Devemos ser como as crianças e receber o reino de Deus como um menino, para nos salvarmos. Ora, a via da Infância espiritual, pela sua simplicidade", tem por fim fazer-nos pequeninos, criancinhas pela humildade e a pratica de todas as virtudes ao alcance de todas as almas. Não é isto justamente o que nos ensinou o Divino Mestre, impondo-nos a condição necessária para entrarmos no reino do Ceo?
Não há duvida, pois, que a via da infância espiritual é a via comum de
santidade indicada pelo Divino Mestre.
II
Em que consiste a via da Infância espiritual. A via da Infância espiritual, diz o
Pe. Martin (5), consiste em se fazer pequeno, em transportar para o domínio
sobrenatural da alma os traços característicos da infância, e viver sob o olhar de Deus como vivem neste mundo as crianças sob as nossas vistas. Após esta definição, meditemos
Os ensinamentos e a doutrina de Santa Teresinha sobre a via da Infância espiritual e As virtudes principais desta via.
*
Perguntaram as noviças a Santa Teresinha um, dia: "Procurais sempre
imitar as crianças; mas afinal que é preciso fazer para se possuir o espirito
da infância? Que quer dizer, pois, ficar pequeno?"
Eis a resposta admirável e inspirada da nossa santinha e que é a definição
da sua pequenina via:
- Ser pequeno é reconhecer seu na¬da, não se desalentar com as próprias faltas, pois as crianças caem muitas vezes, mas são demasiado pequenas para se machucarem muito. Enfim, é não ganhar fortuna e com nada se inquietar. Ser pequeno é não atribuir a si mesmo as virtudes, julgando-se capaz de alguma coisa, mas reconhecer que o
bom Deus põe este tesouro na mão do seu filhinho, para que dele se sirva quando tiver necessidade.
"Quero amar-vos como uma criancinha!" dizia ela muitas vezes a Deus.
Qual terníssima filha, com delicias,
Quero, ó Senhor, encher-te de carícias.
Definida assim a via da Infância espiritual, podemos agora ver as virtudes que a caracterizam. São três: Confiança, abandono e Amor.
Que é uma criança? É uma fraqueza, nada pode por si, é pequena, pobre, simples e amorosa. Pequena e fraca, ela em tudo depende dos pais. Daí a
confiança que neles deposita. Pobre, não pode subsistir sem que lhe seja
dado o alimento, o pabulo da vida. Então, abandona·se á vontade dos que a
sustentam. Simples e amorosa, a criancinha, sem malicias, sem refolhos no
coração, em retribuição ao amor e carinho dos pais, só lhes pode dar uma
coisa: o seu amor.
Teresinha fez assim para com Nosso Senhor. Tornou-se criança na vida espiritual e, pela confiança, o abandono e o amor ao Pai celestial, traçou a rota luminosa da sua via da Infância.
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