Click to copy, then share by pasting into your messages, comments, social media posts and websites.
Click to copy, then add into your webpages so users can view and engage with this video from your site.
Report Content
We also accept reports via email. Please see the Guidelines Enforcement Process for instructions on how to make a request via email.
Thank you for submitting your report
We will investigate and take the appropriate action.
Rebentam as Águas - IV - O Processo
Rebentam as Águas - Parte IV - O Processo
Há uma voz, melodia pura
sobrepondo-se a todo este ruído.
O alarme já não mais toca,
mas por detrás da cortina escura,
tudo quanto estava contido,
soltou-se; outro sentido perdura...
É hora de partir...
«Momentos há em que a minha missão,
tão generosamente a mim entregue,
me pesa como um grave grilhão.
É a longa espera, a curta acção,
a vigilância a quem renegue
a tão belo mundo, ordenado,
regulado por nosso benfeitor.»
- a primeira sentinela, mais antiga,
lamentava algumas vezes o seu fado.
Invocando, porém, a fortuna que o abriga,
desempenha a sua sina com fervor,
pois dura pena aguarda o condenado
desobediente ao comando do Senhor!
«Ora! Com tanto tempo de serviço,
já não devias duvidar da sua graça!»
- a segunda sentinela, um ingénuo noviço,
interpela as dúvidas do seu graduado -
«Com certeza já pouco tempo te falta
para que recebas de recompensa
uma existência humana do teu agrado!»
- conclui o novato em sabedoria pretensa.
«Se acaso tivesses, como eu, este registo,
de plenas vitórias, fielmente dedicado,
verias que há forças que se têm juntado,
invisíveis, discretas, pacientes,
como se um outro plano por nós não visto
actuasse além do que estamos conscientes.»
«Nenhuma força se opõe à do Senhor!»
- exalta-se, fervoroso, o novato -
«Blasfémia é tecer tais considerações!
Reúne teu sentido em torno do seu amor
e terás recompensa à altura das acções!»
«Não sejas assim lesto a julgar-me insensato!
O Senhor eu temo e o Senhor eu tenho amado,
por mais tempo e desafios do que tu supões,
cumprindo o dever ao meu Mestre tão divino!
Não é de sua força que estou eu desconfiado,
mas da percepção que outra maior, um Destino,
se apronta para lhe aplicar um rude trato.»
«Ah! Põe de parte tais fantasias transgressoras!
O omnipotente entregou-nos seu desiderato!
Nova oportunidade de cumpri-lo se aproxima:
vislumbro que outro fugitivo se encima.
Vem, façamos retroceder o candidato!»
Uma sensação quente se origina à minha volta.
É conforto, é arrepio bom, é suave ternura,
que se infiltra, pouco a pouco, como um sono,
visando desarmar meu calmo intento de revolta.
Como se ocupasse o poder central no meu trono,
uma voz se manifesta sobre mim com lisura:
«Bem faria à tua alma descansar um momento.
Contemplar a tua vida, apreciar o teu abono;
há bastante tempo para a viagem que te augura
uma existência celeste, motivada por teu alento.»
Hesito um só instante, mas nada cedo, nada digo.
Rodeado repentinamente de um meigo Outono,
desinteresso-me pela paz do vento no seco folhame,
pelo repouso, pelo canto das árvores e do leve trigo.
«Mereces aqui, por tuas virtudes, que o Senhor te ame.
Aproveita a benesse, porquanto te é dada com orgulho.»
São diversas as oferendas à disposição;
todas elas sondo, como num lúcido sonho.
Com a distância mantida e sem fazer barulho,
declino-as sem resposta, discernindo ilusão,
ciente das ciladas que transponho.
«Ora, que pensas tu haver onde consideras chegar?
Será que sonhas mesmo com enganosa liberdade?
Não sabes que além do céu, o caos é tão medonho
que passado o portão, ser algum logra suportar?
Detém-te onde é seguro e no Senhor há bondade.»
Pensaram que o receio do que não recordo
fosse o motivo que me fizesse regressar.
Evocaram a escassez, a fome, a carência,
para que desejasse morder-lhes tal engodo
memorando a agudez da vil ausência!
Há uma intermissão de vazio, um novo estado;
um, que se questiona, sobre o outro que hesita.
Pois há um que se apercebe parasita,
num clamor interno e em consciência,
invejando aquele destino afortunado.
A pausa devolve-me à fria e escura realidade
Destrinço a incerteza que me rodeia;
De um lado, abalada gravidade,
do outro, nova e virgem ideia.
«Que ocorre? Porque vacilas? Esta alma te anseia?
Desastrosa é a consequência que assim te auguro!»
«Como este Ser resiste tranquilo, mas com tanta agência!
Sentinela, companheiro, vislumbramos aqui nosso futuro!»
«Como?! Que dizes?! Impossível o que ouço de um veterano!
Após tanto serviço, cair assim em desgraça e reles falência!»
«Pois que seja, que caia! Aceito suportar recomeço duro!
Cria-se-me Liberdade em inveja e renuncio a este engano!»
«Como podes virar costas ao dever que tanto te compensou?!
Terás, exposto a copiosos desertores, também ficado insano?!
Vinde, Senhor! Aplicai a este maldito traidor vosso pior castigo!
Que eu permaneço em meu posto, incólume ao que me chorou!»
Sabedor que, por sua deserção, irado e certo será o seu fustigo,
intuindo porém, que sua consciência encetara um renascer,
a sentinela despojada suplica ao renegado que o derrotou!
«Tem piedade de mim, oh nobre espírito, e escuta o que te digo:
se Hoje caio, Amanhã serei eu o fugitivo, que, testado, se libertou!»
(...)
Category | Arts & Literature |
Sensitivity | Normal - Content that is suitable for ages 16 and over |
Playing Next
Related Videos
Rebentam as Águas - IX - A Vida
4 years, 6 months ago
Rebentam as Águas - VII - O Portão
4 years, 6 months ago
Rebentam as Águas - I - O Alarme
4 years, 6 months ago
Warning - This video exceeds your sensitivity preference!
To dismiss this warning and continue to watch the video please click on the button below.
Note - Autoplay has been disabled for this video.